julho 15, 2005

Todo mundo é chato

Maria Tereza Maldonado

todomundochato-lucy-tom-everhart.jpg A reclamação é um vício que algumas crianças e adultos cultivam com esmero para evitar o esforço da reflexão e das iniciativas de mudança. As perguntas evitadas são: O que estou fazendo (ou deixando de fazer) comigo mesmo para me sentir tão chateado e reclamar tanto dos outros e da vida? Se não estou satisfeito com o que está acontecendo, o que posso fazer para mudar?
O desenvolvimento pessoal é um trabalho da vida inteira. Nas empresas, fala-se muito sobre isso: aprendizagem continuada, treinamento, capacitação, universidades corporativas e por aí vai. A idéia fundamental é a necessidade de crescer sempre, não ficar acomodado nem desatualizado, desenvolver novas habilidades e competências, melhorar a qualidade dos relacionamentos e o nível de desempenho. Em síntese, ser líder de si próprio. Mesmo quando está bom, pode ficar melhor ainda.

Esse impulso para o autodesenvolvimento pode ser estimulado desde a infância. Será muito útil para abrir caminhos nesse mundo em rápida mutação, em que enfrentamos desafios constantes, a exigir flexibilidade e criatividade. A pessoa (seja ela criança ou adulto) que acha todo mundo chato tem dificuldade de manter amizades e expressa insatisfação com tudo que lhe é oferecido. Está empacada na rigidez da cobrança de que os outros façam apenas o que ela quer.

Não dá para ser ''o chefe da brincadeira'' o tempo inteiro. Ter flexibilidade para aceitar as idéias dos outros, esperar a vez para propor as próprias idéias e respeitar as regras do jogo sem se sentir ofendido e desprestigiado quando os outros ganham são aspectos importantes do desenvolvimento da inteligência de relacionamento. ''Todo mundo é chato'' é uma queixa que revela a dificuldade de aceitar que nem sempre se pode impor suas próprias idéias e desejos; mostra também o desconforto de sentir que os outros se afastam por não se sentirem respeitados. Não é agradável conviver com gente autoritária.

''Todo mundo é chato'' revela também uma distorção da percepção, que enxerga com lentes de aumento os defeitos e as imperfeições e é míope para ver os aspectos favoráveis e as qualidades dos outros. Desenvolver a capacidade de perceber o que há de melhor nas pessoas, compreender e tolerar as limitações, construir o relacionamento a partir do que há de bom são aspectos essenciais da inteligência emocional.

Reclamar compulsivamente paralisa as iniciativas de mudança e reduz nosso poder de modificar situações insatisfatórias. Esperar que os outros se transformem ou que a vida seja mais generosa em ofertas de oportunidades em muitos casos significa a recusa de exercer o próprio poder de escolher outro rumo, abrir novos caminhos de vida, modificar-se para que os outros se modifiquem. É frustrante ficar esperando acontecer, acumulando amargura e ressentimento, em vez de fazer acontecer.

fonte: jb online

[Imagem: Tom Everhart, Lucy]

Posted by Lilia at julho 15, 2005 03:41 PM
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