Louise L. Hay
O ressentimento é a raiva há muito sufocada. O principal problema do ressentimento é que ele costuma se alojar sempre em uma determinada parte do organismo. Com o passar do tempo, naquele local vai se formando um cisto, que pode se transformar em tumor, que vai comer o corpo por dentro. Portanto, não existe nada pior para a saúde do que a raiva reprimida durante muitos anos.
Muitos de nós fomos criados em famílias em que não era permitido extravasar raiva. Em algumas delas, só o chefe da casa possuía esse direito. Dessa forma, os outros tinham de aprender a engolir a raiva. Isso é especialmente freqüente com mulheres, que em geral foram ensinadas que externar raiva era pouco feminino e sinal de falta de educação.
Muitas mulheres criam quistos ou tumores no útero devido àquilo que chamo de sindrome ele me magoou. Elas são pessoas com problemas emocionais que guardam seu ressentimento na área genital. Agem como as ostras, que, ao absorverem um grão de areia, criam em torno dela camada após camada de carbonato de cálcio para escaparem da irritação, até que se forma uma pérola. Essas mulheres absorvem a mágoa e ficam repisando seu ressentimento ou, como costumo dizer, passando sempre o velho filme, e as camadas e camadas de raiva reprimida acabam se transformando em um quisto e depois um tumor.
Como o ressentimento geralmente está muito fundo dentro de nós, é comum ele exigir muito trabalho mental para ser dissolvido. Recebi uma carta de uma senhora que estava lidando com seu terceiro tumor canceroso. Ela me contou que fazia muito trabalho mental, mas percebi por suas palavras que ainda guardava dentro de si um forte sentimento de indignação e amargura, que, no fundo, ela achava mais fácil deixar a cargo do médico extrair o tumor que trabalhar com grande constância em dissolver seus ressentimentos Ora, os médicos podem ser muito bons em extrair quistos ou tumores, mas só o próprio paciente pode impedir de voltar.
Existem pessoas que preferem morrer a mudar seus padrões. Você com certeza conhece alguém que se recusa a modificar seus hábitos alimentares, apesar de saber que corre perigo ao mantê-los. Isso pode ser bastante difícil para uma pessoa que vê um ente querido praticando exageros e percebe que é incapaz de modificá-lo.
No entanto, tenha em mente que não importam as escolhas, elas são sempre as corretas para quem as faz dentro do seu nível de compreensão e conhecimento. Não existe culpa, mesmo se a pessoa deixar este planeta devido a seus hábitos arraigados.
Ninguém deve se culpar por falhar ou fazer algo errado. Repito: uma pessoa está sempre fazendo o melhor possível dentro do grau de percepção e conhecimento que possui. Estamos todos em uma interminável viagem pela eternidade.. ."
Martha Medeiros
O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.
O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.
Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença
contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada.
Fonte: JC Online
[Imagem: foto Lilia Lima]